No ambiente empresarial contemporâneo, cada decisão estratégica pode representar tanto […]
No ambiente empresarial contemporâneo, cada decisão estratégica pode representar tanto uma grande oportunidade quanto um risco capaz de comprometer a sustentabilidade do negócio. Nesse contexto, a due diligence se consolidou como um dos instrumentos mais relevantes para empresários que desejam tomar decisões seguras, minimizar passivos ocultos e garantir a conformidade legal e regulatória das operações.
Mais do que uma prática de auditoria ou simples verificação documental, a due diligence é um processo de investigação abrangente que permite analisar, com profundidade, todos os aspectos relevantes de uma empresa ou operação comercial. Trata-se de um exame que envolve áreas jurídicas, financeiras, trabalhistas, ambientais, fiscais e também de governança corporativa.
Ao realizar uma due diligence, o empresário não apenas adquire maior clareza sobre o negócio em questão, mas também fortalece sua capacidade de negociação. Saber exatamente quais riscos estão envolvidos possibilita estabelecer condições mais vantajosas em contratos, prever contingências e, em alguns casos, até mesmo desistir de uma operação que poderia trazer prejuízos irreparáveis.
O termo due diligence, de origem anglo-saxã, pode ser traduzido como “diligência devida” ou “devida cautela”. Sua essência está na necessidade de agir com prudência antes de fechar negócios relevantes, garantindo que nenhuma informação essencial permaneça oculta.
Embora muitas vezes associada apenas a fusões e aquisições (M&A), a due diligence é aplicável em diversos contextos corporativos. Empresas que recebem investimentos, que contratam fornecedores estratégicos, que iniciam operações internacionais ou que incorporam novos sócios também se beneficiam de análises desse tipo.
Imagine, por exemplo, um empresário que esteja em processo de adquirir outra empresa. Sem uma due diligence adequada, ele pode descobrir somente após a assinatura do contrato que a empresa-alvo responde a processos trabalhistas de alto impacto, que possui dívidas fiscais expressivas ou que não está em conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados (Lei 13.709/2018). Situações como essa já foram responsáveis por prejuízos milionários no mercado brasileiro, e poderiam ter sido evitadas com a realização prévia do processo de análise.
Para além da prevenção de riscos, a due diligence traz benefícios diretos e mensuráveis às empresas que a adotam. Entre os principais, podemos destacar:
Esses benefícios demonstram que a due diligence não deve ser vista como um custo ou burocracia, mas como um investimento estratégico que protege e potencializa o valor da empresa.
Embora cada processo seja adaptado às especificidades da operação analisada, algumas etapas são comuns. A primeira delas é a coleta de informações, que envolve o levantamento de documentos societários, contratos, balanços, registros trabalhistas e dados fiscais. Em seguida, ocorre a análise detalhada dessas informações, com o objetivo de verificar inconsistências, passivos ocultos ou riscos relevantes.
Entrevistas com gestores e colaboradores, quando realizadas, ajudam a compreender não apenas a parte documental, mas também a cultura organizacional e a efetividade das práticas de compliance. Por fim, a elaboração de um relatório conclusivo permite que os gestores tenham uma visão clara e objetiva dos riscos identificados e das recomendações necessárias para mitigar problemas.
Tradicionalmente, a due diligence concentrou-se em aspectos financeiros, jurídicos e trabalhistas. Porém, no cenário atual, em que as empresas operam em ecossistemas cada vez mais digitais e processam grandes volumes de dados pessoais, essa análise precisa ir além.
É nesse contexto que surge a due diligence digital, voltada a avaliar a maturidade tecnológica e a conformidade com legislações como a LGPD. Não são raros os casos de organizações que, mesmo financeiramente sólidas, sofreram perdas significativas em razão de falhas de segurança cibernética ou de sanções aplicadas pela Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD).
Uma due diligence moderna deve, portanto, verificar se a empresa analisada possui políticas de privacidade, protocolos de cibersegurança, controles de acesso, registros de tratamento de dados e planos de resposta a incidentes. Esse olhar tecnológico complementa a análise tradicional e garante que o empresário tenha uma visão completa dos riscos envolvidos.
Um dos elementos centrais da due diligence é a avaliação do programa de compliance da empresa analisada. Ter políticas de integridade, códigos de conduta e mecanismos de denúncia bem estruturados indica que a organização possui um ambiente saudável e com riscos reduzidos.
Para o empresário que pretende investir ou se associar a outra companhia, essa informação é valiosa, pois demonstra não apenas a solidez financeira do negócio, mas também sua capacidade de permanecer sustentável a longo prazo. O Guia de Programa de Integridade da CGU é um exemplo de referência prática que orienta empresas na estruturação de políticas eficazes de integridade.
Além disso, a due diligence também pode se inspirar em recomendações internacionais, como as Diretrizes da OCDE para Empresas Multinacionais (disponível em inglês e francês), que reforçam a importância da governança e da responsabilidade social corporativa. No campo da privacidade, organizações como a International Association of Privacy Professionals (IAPP) têm destacado a necessidade de integrar análises de proteção de dados em operações de M&A.
A due diligence se tornou indispensável no atual cenário empresarial, em que riscos financeiros, jurídicos e digitais estão cada vez mais interconectados. Para empresários atentos, ela funciona como um farol que ilumina ameaças ocultas e aponta caminhos mais seguros para o crescimento sustentável.
Mais do que um requisito de governança, trata-se de um instrumento de proteção e valorização do negócio, que pode evitar prejuízos significativos e, ao mesmo tempo, tornar a empresa mais competitiva no mercado.
Em tempos de transformação digital, novas regulações e golpes cada vez mais sofisticados, a due diligence é a garantia de que o empresário não caminha às cegas. É, em última análise, o passo estratégico que separa a gestão amadora da condução profissional de negócios.
Por
Erika Knochenhauer
Advogada