As fraudes financeiras nunca estiveram tão presentes no cotidiano de […]
As fraudes financeiras nunca estiveram tão presentes no cotidiano de consumidores e empresas brasileiras. De acordo com levantamento da Serasa Experian, somente no primeiro trimestre de 2025 foram registradas 1.871.979 tentativas de fraude no setor bancário e de cartões, um crescimento de 21,5% em relação ao mesmo período de 2024. Se todas essas ações criminosas fossem bem,sucedidas, os prejuízos ultrapassariam a marca de R$ 15,7 bilhões, representando o maior valor desde o início da série histórica, em 2023.
Esse cenário evidencia a sofisticação crescente das tentativas de golpe, que hoje utilizam engenharia social, clonagem de cartões, ataques digitais e até deepfakes para enganar tanto clientes quanto empresas. O ambiente corporativo, cada vez mais digitalizado, tornou,se alvo frequente, principalmente em setores que lidam com grandes volumes de dados pessoais e financeiros.
O relatório da CVM buscou identificar características comuns às vítimas de fraudes financeiras. A pesquisa revelou que 91% são homens, em sua maioria entre 30 e 39 anos, com renda familiar de 2 a 5 salários mínimos e pós-graduação. Apesar do alto nível educacional, esses investidores apresentaram comportamentos que aumentaram sua exposição ao risco, como baixa confiança nas instituições reguladas, maior abertura a investimentos não convencionais e suscetibilidade ao efeito manada.
A pesquisa ainda identificou três perfis qualitativos de vítimas:
Esses achados confirmam que fraudes financeiras não atingem apenas pessoas desinformadas ou com baixa renda. Ao contrário, o desejo de buscar oportunidades fora do mercado tradicional e a confiança excessiva em terceiros ou em novas tecnologias são fatores que tornam até profissionais qualificados mais vulneráveis.
Embora muitos empresários ainda associem golpes apenas a consumidores finais, os dados demonstram que organizações também estão na linha de frente do risco. Pagamentos eletrônicos, cartões corporativos, sistemas de crédito e até processos internos de compras podem ser explorados por fraudadores.
Uma fraude financeira não causa apenas prejuízo imediato. Ela gera riscos reputacionais, perda de confiança do mercado e pode atrair questionamentos regulatórios e judiciais. Além disso, em casos de falhas de segurança ou ausência de protocolos de prevenção, a própria empresa pode ser responsabilizada por negligência.
A jurisprudência recente do Superior Tribunal de Justiça (STJ) aponta que a responsabilidade de bancos e instituições financeiras em fraudes digitais depende da comprovação de falta de diligência. Em outras palavras, quando a fraude decorre de descuido ou falha na segurança, a instituição deve indenizar. Porém, se adotar protocolos adequados e comprovar que seguiu boas práticas, a responsabilidade pode ser afastada.
Essa lógica se aplica também às empresas. Se uma organização não possui políticas robustas de compliance, monitoramento de transações e treinamento dos colaboradores, ela pode ser considerada negligente na gestão de riscos. Por isso, blindar os processos internos deixou de ser um diferencial competitivo e passou a ser uma exigência de sobrevivência no mercado.
Entre os golpes mais recorrentes no Brasil, destacam-se:
Essas modalidades mostram que os riscos vêm de todos os lados, externos e internos, exigindo vigilância constante.
Tanto a ANPD (Autoridade Nacional de Proteção de Dados) quanto o Banco Central têm reforçado a necessidade de empresas adotarem medidas de segurança alinhadas à LGPD e às normas financeiras. Entre as orientações destacam-se:
Essas medidas reduzem não apenas a chance de fraude, mas também o risco jurídico de responsabilização.
A prevenção exige uma abordagem integrada, que una tecnologia, processos e cultura organizacional. Algumas boas práticas incluem:
O crescimento alarmante das tentativas de fraude no Brasil em 2025 acende um alerta para empresários e gestores. Não basta confiar na segurança oferecida por bancos ou provedores de serviço: é preciso assumir uma postura ativa de prevenção, investindo em governança, compliance e tecnologia.
Afinal, no ambiente atual, em que golpes digitais estão cada vez mais sofisticados, proteger as finanças e os dados da empresa não é apenas questão de gestão, é questão de sobrevivência no mercado.
Por
Erika Knochenhauer
Advogada