No ambiente corporativo, a maioria dos golpes bem-sucedidos não começa […]
No ambiente corporativo, a maioria dos golpes bem-sucedidos não começa com um “hacker” sofisticado, mas com engenharia social e rotinas sem checagem. O fraudador imita um canal do banco, clona um perfil no WhatsApp, altera um boleto ou usa uma maquininha “com defeito” para cobrar valores a mais e tudo isso costuma ocorrer em horários de pressão, quando processos ficam frouxos e a validação por um segundo canal é ignorada. A boa notícia é que um protocolo simples, aplicado com disciplina, derruba grande parte do risco.
Quatro pontos merecem atenção imediata:
Todos esses padrões estão bem documentados em guias de prevenção recentes usados por equipes antifraude.
Também crescem fraudes em falsos leilões e investimentos, com sites e propostas “profissionais” que desaparecem após o pagamento. A regra é invariável: promessa de ganho fácil, urgência para decidir e pedido de pagamento por fora dos canais oficiais. Em paralelo, a clonagem de contas em redes sociais — inclusive de marcas — é utilizada para vender produtos inexistentes a seguidores. Treinamento recorrente e checklists operacionais são decisivos para cortar esse vetor.
Comece pelas pessoas. Vendedores, financeiro e atendimento precisam de um roteiro prático de “o que checar antes de pagar/receber”. Exercícios curtos de simulação, com mensagens falsas de “banco” e “fornecedor”, ajudam a treinar o reflexo de validar por outro canal. Em golpes de “falso funcionário” ou “falso motoboy do banco”, uma ligação direta para a agência oficial corta a fraude no nascedouro.
Nos processos, institua validação por canal distinto para qualquer mudança de conta bancária, duplicidade de cobrança ou pedido fora do padrão. Padronize também a conferência de favorecido e CNPJ em boletos, a confirmação presencial em retiradas de valores e a liberação de mercadorias somente após compensação efetiva, evitando “depósito com envelope vazio”. Tudo isso deve virar procedimento escrito e conhecido, não apenas “boa prática”.
A terceira frente é tecnologia. Use antivírus corporativo, MFA/2FA em e-mail e apps, bloqueio de instalações fora das lojas oficiais e um filtro para links suspeitos. Nos pontos de venda, proíba o uso de maquininhas com visor ilegível e oriente o time a recusar transações em dispositivos “diferentes” do habitual. Em ambientes com QR Code, oriente a checagem da URL após a leitura — adesivos sobrepostos são uma tática comum.
Para boletos, gere a segunda via sempre nos canais oficiais, valide o beneficiário e o CNPJ e desconfie de PDFs recebidos por e-mail/WhatsApp, sobretudo se vierem com “urgência” e remetentes estranhos. Havendo suspeita, avise imediatamente o credor verdadeiro e o banco, tentando bloquear o pagamento.
Em cartões, não aceite cobranças em maquininhas com visor oculto ou quebrado. Exija ver o valor final antes de digitar a senha e mantenha o cartão sempre em mãos — práticas como entrega do cartão a terceiros ou “coleta domiciliar” por supostos agentes do banco são parte do golpe. Em Pix, confirme a titularidade da conta, evite transferências a pessoas físicas desconhecidas e não “migrem” dinheiro para supostas “contas seguras” indicadas por quem liga se passando pelo banco.
Se houver suspeita ou confirmação de fraude, não apague nada. Guarde comprovantes, capturas de tela, e-mails, cabeçalhos e registros de chat. Acione imediatamente o banco para tentar o bloqueio e registre boletim de ocorrência — a celeridade aumenta as chances de estancar o dano. Para golpes digitais (links e aplicativos falsos), troque senhas, ative varredura no dispositivo e, quando aplicável, informe também às plataformas (WhatsApp, Instagram, marketplace) para derrubar perfis e domínios.
Na comunicação externa, transparência importa. Se um cliente foi impactado, explique o que ocorreu, quais passos já foram adotados e como ele pode se proteger a seguir. Pequenas empresas que comunicam rápido e abrem canal de suporte reduzem reclamações em órgãos de defesa do consumidor e preservam credibilidade — mesmo quando o prejuízo não pode ser totalmente revertido.
Reforce, nos contratos com plataformas de pagamento, gateways e ERPs, cláusulas de:
Em serviços de atendimento terceirizado, proíba coleta de dados sensíveis por canais não oficiais e exija treinamento documentado contra phishing e engenharia social.
Para campanhas e mídia paga, determine que links para áreas de pagamento sempre apontem para domínios oficiais, evitando redirecionadores terceirizados suscetíveis a clones. Crie ainda mensagens-modelo para responder a clientes que perguntarem “isso é oficial?”, orientando como validar ofertas e perfis da marca — um antídoto poderoso contra perfis falsos que “surfam” em cima da sua comunicação.
Fraude corporativa se combate com rotina, não com sorte. Processos de validação, educação contínua e tecnologia básica bem configurada cortam o oxigênio do golpista. Se você ainda não tem um protocolo antifraude escrito e treinado, este é o momento: comece pelos pontos de maior risco (boletos, Pix, maquininha, QR Code e WhatsApp corporativo) e rode sessões rápidas de simulação com as equipes.
Por
Erika Knochenhauer
Advogada