Artigos 17.10.25

Golpes financeiros contra empresas: prevenção, detecção e resposta para reduzir perdas 

No ambiente corporativo, a maioria dos golpes bem-sucedidos não começa […]

No ambiente corporativo, a maioria dos golpes bem-sucedidos não começa com um “hacker” sofisticado, mas com engenharia social e rotinas sem checagem. O fraudador imita um canal do banco, clona um perfil no WhatsApp, altera um boleto ou usa uma maquininha “com defeito” para cobrar valores a mais e tudo isso costuma ocorrer em horários de pressão, quando processos ficam frouxos e a validação por um segundo canal é ignorada. A boa notícia é que um protocolo simples, aplicado com disciplina, derruba grande parte do risco. 

Onde as empresas mais se expõem 

Quatro pontos merecem atenção imediata:

  • (i) cobrança e pagamentos, onde o “boleto falso” desvia valores por beneficiários adulterados;
  • (ii) ponto de venda, alvo de golpistas que usam a “maquininha quebrada” para ocultar o visor e refazer cobranças;
  • (iii) autosserviço digital, em que o QR Code é substituído por adesivos maliciosos; e
  • (iv) canais de relacionamento, que sofrem com perfis de WhatsApp clonados ou falsos pedindo transferências “urgentes”.

Todos esses padrões estão bem documentados em guias de prevenção recentes usados por equipes antifraude.  

Também crescem fraudes em falsos leilões e investimentos, com sites e propostas “profissionais” que desaparecem após o pagamento. A regra é invariável: promessa de ganho fácil, urgência para decidir e pedido de pagamento por fora dos canais oficiais. Em paralelo, a clonagem de contas em redes sociais — inclusive de marcas — é utilizada para vender produtos inexistentes a seguidores. Treinamento recorrente e checklists operacionais são decisivos para cortar esse vetor.  

Prevenção em três frentes: pessoas, processos e tecnologia 

Comece pelas pessoas. Vendedores, financeiro e atendimento precisam de um roteiro prático de “o que checar antes de pagar/receber”. Exercícios curtos de simulação, com mensagens falsas de “banco” e “fornecedor”, ajudam a treinar o reflexo de validar por outro canal. Em golpes de “falso funcionário” ou “falso motoboy do banco”, uma ligação direta para a agência oficial corta a fraude no nascedouro.  

Nos processos, institua validação por canal distinto para qualquer mudança de conta bancária, duplicidade de cobrança ou pedido fora do padrão. Padronize também a conferência de favorecido e CNPJ em boletos, a confirmação presencial em retiradas de valores e a liberação de mercadorias somente após compensação efetiva, evitando “depósito com envelope vazio”. Tudo isso deve virar procedimento escrito e conhecido, não apenas “boa prática”.  

A terceira frente é tecnologia. Use antivírus corporativo, MFA/2FA em e-mail e apps, bloqueio de instalações fora das lojas oficiais e um filtro para links suspeitos. Nos pontos de venda, proíba o uso de maquininhas com visor ilegível e oriente o time a recusar transações em dispositivos “diferentes” do habitual. Em ambientes com QR Code, oriente a checagem da URL após a leitura — adesivos sobrepostos são uma tática comum.  

Protocolos para Pix, boletos e cartões 

Para boletos, gere a segunda via sempre nos canais oficiais, valide o beneficiário e o CNPJ e desconfie de PDFs recebidos por e-mail/WhatsApp, sobretudo se vierem com “urgência” e remetentes estranhos. Havendo suspeita, avise imediatamente o credor verdadeiro e o banco, tentando bloquear o pagamento.

Em cartões, não aceite cobranças em maquininhas com visor oculto ou quebrado. Exija ver o valor final antes de digitar a senha e mantenha o cartão sempre em mãos — práticas como entrega do cartão a terceiros ou “coleta domiciliar” por supostos agentes do banco são parte do golpe. Em Pix, confirme a titularidade da conta, evite transferências a pessoas físicas desconhecidas e não “migrem” dinheiro para supostas “contas seguras” indicadas por quem liga se passando pelo banco.  

Se o golpe acontecer: reação rápida e cadeia de custódia 

Se houver suspeita ou confirmação de fraude, não apague nada. Guarde comprovantes, capturas de tela, e-mails, cabeçalhos e registros de chat. Acione imediatamente o banco para tentar o bloqueio e registre boletim de ocorrência — a celeridade aumenta as chances de estancar o dano. Para golpes digitais (links e aplicativos falsos), troque senhas, ative varredura no dispositivo e, quando aplicável, informe também às plataformas (WhatsApp, Instagram, marketplace) para derrubar perfis e domínios.  

Na comunicação externa, transparência importa. Se um cliente foi impactado, explique o que ocorreu, quais passos já foram adotados e como ele pode se proteger a seguir. Pequenas empresas que comunicam rápido e abrem canal de suporte reduzem reclamações em órgãos de defesa do consumidor e preservam credibilidade — mesmo quando o prejuízo não pode ser totalmente revertido.  

Contratos e fornecedores: responsabilidade compartilhada 

Reforce, nos contratos com plataformas de pagamento, gateways e ERPs, cláusulas de:

  • (i) logs e rastreabilidade;
  • (ii) cooperação em investigações;
  • (iii) SLA para resposta a incidentes; e
  • (iv) dever de notificar fraudes e tentativas detectadas na ponta.

Em serviços de atendimento terceirizado, proíba coleta de dados sensíveis por canais não oficiais e exija treinamento documentado contra phishing e engenharia social.  

Para campanhas e mídia paga, determine que links para áreas de pagamento sempre apontem para domínios oficiais, evitando redirecionadores terceirizados suscetíveis a clones. Crie ainda mensagens-modelo para responder a clientes que perguntarem “isso é oficial?”, orientando como validar ofertas e perfis da marca — um antídoto poderoso contra perfis falsos que “surfam” em cima da sua comunicação.  

Um playbook de 72 horas que funciona

  • Horas 0–4: conter. Bloqueie acessos e meios de pagamento envolvidos, acione o banco e preserve evidências. Se houver aplicativo malicioso, remova-o e isole o dispositivo.
  • Horas 4–24: avaliar impacto e comunicar. Levante valores, identifique vítimas internas/externas e decida as comunicações necessárias (cliente, banco, plataforma, autoridade).
  • Horas 24–72: remediar e aprender. Ajuste controles, atualize o roteiro de checagens, treine o time sobre o golpe específico e documente o caso no repositório interno de incidentes. Esse ciclo simples evita o improviso e torna a resposta cada vez mais rápida.

Conclusão

Fraude corporativa se combate com rotina, não com sorte. Processos de validação, educação contínua e tecnologia básica bem configurada cortam o oxigênio do golpista. Se você ainda não tem um protocolo antifraude escrito e treinado, este é o momento: comece pelos pontos de maior risco (boletos, Pix, maquininha, QR Code e WhatsApp corporativo) e rode sessões rápidas de simulação com as equipes. 

Avatar Erika Knochenhauer

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Erika Knochenhauer


Advogada

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